ILHA DE MARAJÓ

Estamos no ferry boat , voltando da ilha de Marajó...o ferry é enorme , com caminhões , ônibus , tratores , carros , motos , bicicletas e muitas pessoas. O nosso “caminhãozinho”(apelido da Land Rover ) está espremido lá embaixo , no meio de dois caminhões enormes...e nós viajamos encima , pois é proibido ficar no carro. São três horas e meia de travessia e a volta está sendo turbulenta..ondas enormes batem de frente e de lado nesse monstro de metal e eu mal consigo pensar...para passar o medo , escrevo!

RELATO SOBRE MARAJÓ:
Nos sentimos aliviados ao chegarmos na Ilha , por podermos finalmente consumir paisagens...o carro e as estradas até o Pará nos deram um sentido de confinamento , de responsabilidade com o que estava por vir...e em Belém tivemos aquele choque cultural e quase nos sentimos oprimidos pelo calor e exaustão da viagem.
Depois de uma noite passada numa barraca , embaixo de uma enorme mangueira carregada de frutos , a manhã azul e brilhante se abriu aos nossos olhos !!! Búfalos , guarás , araras e garças se espalham pela ilha , e as praias de águas salobras e limpas nessa época da seca nos deleitam com seus cenários compostos de terra , água e céu...pequenas piscinas naturais se formam na maré baixa e um pescador passa com seu barco ao longe , pequeno e frágil , navegando em busca do sustento da família.
Na subida da maré , superfícies planas aquáticas se formam aos nossos olhos naquela paisagem com nuvens , até que o mar e o céu começam a se fundir, o mesmo azul plácido e forte , os mesmos horizontes ilimitados....árvores do mangue se agarram a terra , querem resistir as grandes marés altas , que se jogam incansavelvente no ciclo de 12 em 12 horas...e essas marés se adaptam a essas paisagens ( ou será vice e versa ???) com uma beleza nada convencional , forte , revolta , exótica..
A pequena cidade de Soure , onde estamos acampados na Fazenda Araruna , é turbulenta pela manhã e na tardinha , quando é mais fresco. Á tarde , todos fazem a sesta ou fogem do calor..é o fim do verão aqui no norte do Pará e todos rezam para a chegada do inverno com suas fortes chuvas...o pó está por tudo e as carroças puxadas por búfalos ditam o ritmo da cidade , se confundindo com tantas bicicletas , motos e lixo jogado por toda parte...
Enfim , depois de muita caminhada , caranguejo com água de côco , dourada frita com cerveja , maré alta e baixa , ventos e calor , com muitos carapanãs nos mordendo no início da noite , voltamos para Belém satisfeitos , completos em todos os sentidos!